O pior filme do mundo

Por Ana Luísa Caron Moura

Quando se fala em cinema, é normal que venha à tona aqueles que são considerados os melhores filmes do mundo (se é que existe algo do tipo). Mas, o que praticamente nunca se fala é sobre os piores filmes. Então, a título de curiosidade, a Pílula resolveu abordar esse assunto tão polêmico e falar um pouquinho sobre aquele que é considerado pela grande maioria como o pior filme do mundo.

O longa do qual estamos falando se trata do drama romântico e independente The Room, lançado em 2003 e com direção de Tommy Wiseau, que também roteirizou e atuou no longa. A obra conta a história de Johnny (o próprio Wiseau), um banqueiro bem sucedido de São Francisco que passa a desconfiar que sua mulher o está traindo com seu melhor amigo, Mark (Greg Sestero, aspirante a ator e o braço direito de Wiseau durante o processo de filmagens).

Tudo começou quando Wiseau, um cara bem excêntrico, resolveu que queria realizar o sonho de se tornar um grande cineasta e transformar o que era originalmente uma peça de teatro e mais tarde um livro, em um roteiro. O problema é que ninguém em Hollywood se interessou pelo trabalho do artista. Então, após muitos “nãos”, Wiseau resolveu ele mesmo dirigir e contracenar no longa, só que o resultado infelizmente não foi o esperado.

The Room teve sua estreia em um número limitado de cinemas da Califórnia e foi imediatamente considerado um fracasso pelo público, pela crítica e inclusive por alguns dos próprios membros da equipe e elenco. A história e estrutura do filme foram dadas como bizarras. Também foram apontadas diversas falhas técnicas, na direção e atuação dos atores, classificadas como péssima (principalmente a de Wiseau). Deste modo, a mídia passou a julgá-lo como “um dos piores longas já feitos na história do cinema”. O alvoroço pelo filme ser ruim foi tão grande que acabou virando meme antes deste conceito sequer existir.

Mais tarde, em 2013, Greg Sestero, que fez o papel de Mark e desembolsou uma fortuna conquistada a longo de anos para ajudar no nascimento do filme, escreveu um livro intitulado The Disaster Artist (algo como o “Artista de Desastres”), em que relata vários dos problemas envolvidos no processo de produção de The Room. De acordo com Sestero, Wiseau decidiu construir sets ao invés de filmar em locações. Comprou equipamentos para filmar em HD e 35mm porque não conseguiu decidir entre os dois e deixava os atores constantemente desconfortáveis em cena, o que resultou em diversas trocas no elenco. Também comentou que as tomadas eram repetidas várias vezes pela inabilidade de Wiseau lembrar as falas que ele mesmo havia escrito ou de conseguir bons enquadramentos. Enfim, o resultado disso foi um filme orçado em 6 milhões de dólares, mas que para surpresa de todos conseguiu garantir grande parte do retorno financeiro, pois a mesma má qualidade que o transformou em fracasso, atraiu tanto a curiosidade das pessoas que o transformou em elemento de culto, alavancando assim as vendas dos DVD’s e recuperando grande parte do dinheiro.

Essa discutível idolatria de fãs ao redor do mundo, que descartam o filme como um fracasso total, já inspirou jogos, estudos acadêmicos sobre o assunto e mais recentemente um filme baseado no livro de Sestero, que leva o mesmo nome. O longa The Disaster Artist é resultado de mais uma parceria entre James Franco e Seth Rogen e promete ser melhor que aquele em que é baseado.

Com estreia comercial prevista para 25 de janeiro aqui no Brasil, traz James Franco como Wiseau, seu irmão Dave Franco no papel de Sestero e outras personalidades como Bryan CranstonSeth Rogen, Zac Efron, Kate Upton, Alison Brie e Sharon Stone. Lá fora, The Disaster Artist vem agradando e muito a crítica, conquistando uma aprovação que gira em torno dos 90% no Rotten Tomatoes e a Concha de Ouro de melhor filme da 65ª edição do Festival Internacional de Cinema de San Sebastián, na Espanha.

Ao receber o prêmio, Franco declarou: “Todos somos um pouco loucos e todos temos grandes sonhos. Espero que nestes tempos de loucura, este filme ofereça a todos um pouco de luz e de inspiração”. Ou seja, talvez The Room tenha lá seus propósitos, ou talvez seja de fato o pior filme da história, mas a verdade é que quem somos nós para julgar o produto de uma arte tão ampla como o cinema.

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